Para discordar de Chico Buarque
Meu amor
Esta carta é assim um lembrete daquilo que
foi embora.
E um atestado do que fica com a gente.
Tem uma música do Chico que diz: “Para onde vai o amor quando o amor acaba?”
Infelizmente, tenho que discordar do muso.
O amor não acaba.
Amor é verbo, não é coisa que se desgasta e seca. Amor não é
substantivo, muito menos substantivo próprio. Amor não é nome, é exercício. É
por isso que termina com R. E esse exercício começa aqui, dentro da gente,
sozinho e calmo.
Tem algum tempo que penso nisso e sempre
faz mais sentido, pra mim, ao menos. O meu amor é meu, não é uma pessoa, uma
coisa. É algo que deve ser alimentado, construído para, então ser dividido. E
existem milhares de formas de se dividir amor. Com uma pessoa é apenas uma das
formas. Uma ótima forma, não nego, mas não é a única. E quanto mais você divide
o amor, exercita o amor, testa o amor, mais ele cresce aí, dentro de você. E a biopolítica dos novos tempos românticas, beibe. Exercício de possibilidades e de potência.
Mas nem
sempre o amor sai, as vezes ele hiberna ou fica mais delicado, mais sutil. Outras
vezes ele grita, chuta, vibra e rasga. Dos dois jeitos ele está lá, amor, seu. Não
acaba, só muda e evolui. Como tudo na vida, não é mesmo? É nesse expandir e contrair que o universo cresce, e o amor também.
E essa carta também vem com um pedido para
você nunca duvidar da sua grande capacidade de amar. Inesgotável e perene,
vontade que só existe para que a gente seja assim, mais gente, mais humano,
mais poesia, mais rio.
E deixa essa correnteza levar tudo que for
para ser levado.
O que é rocha, permanece.
Com amor infinito,
Celine,