segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Para discordar de Chico Buarque


Meu amor

Esta carta é assim um lembrete daquilo que foi embora. 
E um atestado do que fica com a gente.

Tem uma música do Chico que diz: “Para onde vai o amor quando o amor acaba?”
Infelizmente, tenho que discordar do muso. O amor não acaba. 

Amor é verbo, não é coisa que se desgasta e seca. Amor não é substantivo, muito menos substantivo próprio. Amor não é nome, é exercício. É por isso que termina com R. E esse exercício começa aqui, dentro da gente, sozinho e calmo. 

Tem algum tempo que penso nisso e sempre faz mais sentido, pra mim, ao menos. O meu amor é meu, não é uma pessoa, uma coisa. É algo que deve ser alimentado, construído para, então ser dividido. E existem milhares de formas de se dividir amor. Com uma pessoa é apenas uma das formas. Uma ótima forma, não nego, mas não é a única. E quanto mais você divide o amor, exercita o amor, testa o amor, mais ele cresce aí, dentro de você. E a biopolítica dos novos tempos românticas, beibe. Exercício de possibilidades e de potência. 
Mas nem sempre o amor sai, as vezes ele hiberna ou fica mais delicado, mais sutil. Outras vezes ele grita, chuta, vibra e rasga. Dos dois jeitos ele está lá, amor, seu. Não acaba, só muda e evolui. Como tudo na vida, não é mesmo? É nesse expandir e contrair que o universo cresce, e o amor também. 

E essa carta também vem com um pedido para você nunca duvidar da sua grande capacidade de amar. Inesgotável e perene, vontade que só existe para que a gente seja assim, mais gente, mais humano, mais poesia, mais rio.

E deixa essa correnteza levar tudo que for para ser levado. 
O que é rocha, permanece.

Com amor infinito,

Celine,