sexta-feira, 29 de junho de 2007

El niño

Quando pela rosa passa a ventania.
Vale mais o perfume espalhado por um momento ou a beleza desfeita pra sempre?

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Ato ou efeito de...

Os conceitos servem para definir o que uma coisa é. Sabendo o que uma coisa é, podemos presumir o que ela não é e, principalmente, o que ela não pode ser.

Quando uma coisa é algo, logo ela não pode ser outra coisa senão a coisa já relatada e autenticada pelos seres supremos da coisificação das coisas.

Na nossa vida errante e sublime, buscamos conceituar as coisas como forma de saber o que as coisas são. Estabelecer limites, metas, objetivos e, quem sabe, sonhos.

(Este, claro, é um conceito meu. Porque nunca foi dito que os conceitos sempre devem ser universais. Então, me apoio na relatividade relativista para criar teorias que fazem a minha vida mais erudita).

As coisas mudam.

Mas, aí vem o meu ponto principal, o que é melhor? Ter coisas bem definidas, claras, preto no branco? Ou vagar despretensiosamente pela penumbra? Fazer das mãos dadas e dos gemidos ainda baixinhos os únicos pontos de referência. Algo vago, uma coisa que mistura outras três coisas ainda mais vagas. Ou que, simplesmente, mistura duas pessoas vagas.

Acho que é do Los Hermanos uma música que diz “quero nem saber quem sou”.

(Esses devaneios existencialistas são bem clichês, na verdade. É só olhar nos perfis do orkut na sessão “Quem sou eu”. A maioria das pessoas responde “Quem souber me avise” ou “Boa pergunta”. Mãe, está na moda ser niilista. Assim como gostar do Chico).

Temos uma coisa entre nós. Algo que nos liga. Uma coisa que tem a ver com sexo, com conversas de madrugada, com caronas, com filosofia, com bom humor, com fumaça, com declarações tímidas em cartões, com chocolates, com livros, com fantasias, com espumantes, com presentes, com ausência.

Destas palavras-chave eu não quero um conceito, baby. Quero um conto.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

vermelho

Então desligo a luz e espero você deitar. Você caminha até a cozinha, pega um copo d´água, você nunca esquece a água. Deixa a janela com uma frestinha, para o vento entrar e cantar no nosso ouvido. Nunca falei o quanto eu finjo não sentir frio à noite por causa do vento. Minha tosse talvez tenha outro motivo, além do cigarro, que você já nem liga. O remédio acabou e não importa mais. Pisa com cuidado para não tropeçar nas roupas jogadas pelo chão e no par esquerdo do seu sepato. Liga a televisão baixinho, só para dar sono, mas eu nunca consigo dormir. Me beija a testa com singeleza e vira para o lado. Eu, insone. Você, pausa. Uma linha que nos une apenas pelas costas, reverso.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

entrelinhas

Querida Tangerine,


Poetas, filósofos ou motoristas de caminhão, todos são homens e não negam a raça, apesar da boa embalagem.


Celine

terça-feira, 5 de junho de 2007

cama em pista de gelo

Enquanto adoço meu chá de habu solitário, penso no que leva as pessoas a terem tanto medo de tudo. Já repararam que andamos todos receosos, nos protegendo, com medo de qualquer envolvimento? Olho meu rosto no espelho e vejo uma apaixonada, louca, não só pelos cabelos azuis e sorriso fácil. Costumava levar como um elogio, mas não deixa de ser estranho soar como um voz em tom a mais. Falta de intensidade me cansa, mesmo quando sou amena. O que fica de uma cidade não é mesmo o que os olhos destacam? E quando não há nada para destacar, o que fica? Podia ser teste behaviorista, mas não é. Para onde vão os e-mails que voltam? E as respostas que nunca saíram da boca, onde vão parar? E as cartas de amor? Xico Sá e minha amiga Celine sabem da importância das cartas de amor, dessas com perfume nas folhas e adesivos colados. Há dez anos não escrevo cartas de amor, digamos que apenas dedicatórias de igual amor. Os textos ficam cada vez mais tímidos. Uma loucura de amor soa como exagero e qualquer palavra soa como demais. Sentimos e não demonstramos, para o bem e para o mal. Defendo a coragem, as cartas e os bêbados de amor.

Pelos SMS de amor

Xico Sá defende a volta das cartas de amor. Daquelas antigas, seladas, escritas à mão e, se possível, com papel perfumado. Um romantismo só que, de fato, seria ótimo se eu praticamente tivesse desaprendido a escrever assim, com papel e caneta. Salvo a lista de compras que fica grudada na geladeira, meus dedos estão bem treinados com o teclado e exprimem de modo mais rápido o que passa entre as sinapses do meu telencéfalo altamente desenvolvido.


Cartas de amor são lindas, assim como qualquer outra verbalização de tal sentimento. Acredito que ao escrever sobre qualquer assunto, este ganha um corpo, uma áurea, que dificilmente seria encontrada somente falando (excetuando-se, é claro, os sussurros ao pé do ouvido).


Coloco no meio desse balaio de palavras românticas as mensagens de celular românticas. Os famosos SMS que iluminam o meu celular e fazem surgir duas batidas de coração mais aceleradas entre o sinal de chegada e a verificação de quem a mandou. Depois de ver que não foi a operadora, o sorriso é inevitável. E dá-lhe respostas com carinhas, miguxês arcaico e tudo mais. Adoro.


O cúmulo se deu quando, em uma tarde de domingo inócua, tento desesperadamente manter um contato. Ligar para falar nada não é o meu forte, então tome-lhe SMS. O motivo? A vitória do mengão no campeonato carioca. E, detalhe, ele nem gosta de futebol, nem deve saber que é Obina. É o desespero minha gente.


Não, não é. É só um desejosinho que vem, lá do fundo, de dizer um oi e receber um olá do outro lado. E funcionou.

sábado, 2 de junho de 2007

“A ressaca do dia” ou “dial i for invisible”

Sim, tem um momento do dia em que o vizinho ouvindo Vander Lee irrita; os anúncios de dia dos namorados irritam e o noticiário político dá vontade de simplesmente desaparecer. Porque você continua ganhando o mesmo salário de sobrevivência, depois de trabalhar mais de 10 horas por dia durante um longo mês - incluindo fins de semana e feriados. A lista de contas coladas com imã na geladeira parece interminável. Tem momentos na vida em que um quarto de motel repleto de pétalas de rosas parece a coisa mais cafona do universo. Em muitos, quase todos:

Os olhos aceleram para dar conta de tanta informação;
O coração pesa de passado;
Os ombros doem de futuro.

Sim, a vida toda, quem sabe.