sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

O álcool entra, a verdade sai.

“Quem é mais difícil de amar é quem mais precisa ser amado”.

Esse é o tipo de coisa que você não espera e nem precisa ouvir às 5h da manhã de uma sexta muito insana.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Tudo bem

Tudo bem. Não precisa se importar com aquilo que não carece de importância. São só coisas que vem e vão, assim como tudo na vida, não é mesmo? São coisas do corpo. Ou de mulher, quem sabe.

Ah sim, também dizem que a carne é fraca. Pode ser, mas me acostumei a pensar que o corpo todo é frágil. Olha esses ossos aparecendo. Os braços finos. A cabeça que abaixa. É fraqueza. Mas não a fraqueza de desistir, é de tentar. É o mesmo corpo frágil que se arrepia com a leve passagem da brisa ou de um pensamento. De frio. E de calor também. Estranho, né? Não precisa te importar, se é este corpo que queres.

E repito o que ela disse antes, “Por que haverias de querer minha alma na tua cama?” Mas não há alma sem corpo. E a alma não está lá, no fundo, escondida. Está bem na superfície, na pele, no ar que sai, nos olhos que fecham, nas mãos que tocam, no suor. Não percebe? Tudo bem, não carece de importância. Pois se é o meu corpo que queres, é só ele que terás.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Senta que lá vem história

Descobri hoje um site muito interessante para os momentos de ócio criativo. O The New Shelton Wet/Dry tem milhares de categorias sobre variados assuntos. Na parte de “Ideas” encontro uma reflexão sobre a evolução da genitália das fêmeas.

Resumidamente, o artigo fala que com a mudança de quadrúpede para bípedes, a genitália das fêmeas não ficou mais aparente.

Escondidinha entre as pernas e camuflada com os pêlos pubianos e lábios, a vagina não é acessível como a genitália das cachorras por exemplo (olha aí a origem do apelido). Assim, para que a relação sexual aconteça, a mulher deve aceitar, querer, desejar e consentir. Isto daria origem a um outro aspecto biológico nada lógico das mulheres. O fato de a mulherzinha ter que pensar se dá ou não dá a sua perseguida acaba por gerar uma relação afetiva e emocional com o ato de trepar.

Daí, todas as agruras sentimentais que nós, mais cedo ou mais tarde (ou sempre), passamos e a relação conflituosa que muitas vezes é o sexo casual. Ah, outra questão importante é que com a vagina pouco acessível, até os ferormônios que aguçam o desejo sexual dos machos fica disfarçado. Vai ver que vem daí a necessidade de criar um perfume com cheiro de xereca, como foi noticiado há pouco tempo.

Em contrapartida, os homens tão que tão. Com a tal mudança de quadrúpede para bípede, a sua genitália ficou ainda mais aparente e... maior! Não é preciso fazer muito esforço para saber quando um homem está a fim. E para isto, não existe muita teoria não. É pá-pum, pimba na gorduxinha e tudo mais.

Interessante, mas ainda não sei se prefiro a explicação da ciência ou a metáfora do Adão e da Eva, da maçã e da serpente e tudo mais. Parecia ser mais simples. Mas acaba que nunca é.

Queria emendar o papo com um relato sobre O Passado do Hector Babenco, mas deixarei para outra ocasião. Pornô-cult não combina muito com ciência.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Adornos para noites de chuva

E a gente fica assim, no meio de recortes de papel, cola e tesoura.

Rediagramando o que já faz e fez sentido.

Porque a minha caligrafia de menino canhoto não condiz com a beleza que nem todos vêem.

Mais fácil é julgar vulgar.

É dizer impuro.

É fechar os olhos.

Mas ainda ontem li que com os olhos fechados é que se tem mais liberdade. E, ainda com os olhos abertos, ficam assim presos na parede os versos dela. Estão presos e livres.

Dela que tem tanto de mim.

E teria ainda mais se já não fosse morta. Assim:

"E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.


Mas não menti gozo, prazer, lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro.


E te repito: por que haverias
De querer
minha alma na tua cama?


Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me".

(Hilda Hilst)

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

o velho flerte nos tempos de msn

Aí você está lá, com o status "ocupado" bem visível, e uma janelinha chata começa a piscar. Você olha, pra ver se é algum amigo daqueles que têm liberdade de mandar uma mensagem quando você diz estar ocupada. Uma breve análise do nick da pessoa te faz constatar: não, não é um amigo. É o sujeito que você conheceu na balada há uma semana e, por alguma circunstância, te adicionou no msn. Pronto. Diagnóstico feito, lá vai você abrir a tal mensagem pra descobrir de quem se trata, porque a criatura nem pra facilitar a sua vida e colocar um nick prontamente identificável. Mal você abre a janelinha e um monte de desenhos começam a piscar. Passam dois minutos até que você consiga decifrar que "e aih -estrelas piscando - menina loira de vestido rosa dançando pra lá e pra cá - comu c tahhhhh - interrogações pulando - tuduh - boneco palitinho andando sem sair do lugar - mais interrogações enlouquecidas" é uma forma de perguntar "e aí, gata/princesa/menina/ninfeta/seja lá que porra a bonequinha queira dizer, como você está? tudo indo?".

Só isso já mereceria uma bloqueada na hora. E o pior: às vezes, esse tipo de cara é até interessante à primeira vista. Você até pensa que, de repente, valeria a pena tomar uma cerveja para sacar mais da criatura. Mas uma simples mensagem ridícula no msn pode minar todas as chances. Cruel assim. Na maioria das vezes, quando você não responde na hora, o pretê-sem-noção manda umas dez mensagens igualmente piscantes em seguida, o que te deixa quase sem fôlego e paciência pra decifrar mais coisa. Perguntas como: "ei, vc taaah aiih?" ou "kd vc???????????" ou "num ker falar cumigo??? tô cum saudadis!!!", tudo devidamente salpicado de emoticons bregas, até terminar com o fatídico "ki foi, lindaaaa? tá ocupada??". Nesse momento, só resta respirar fundo e pensar bem antes de mandar uma resposta atravessada, perguntando se o cara não sabe ler o que está escrito no seu status ou se ele costuma ter saudades de quem viu uma vez na vida e não tem a menor intimidade.

Nesses casos extremos, aconselho a bloquear, sem dó nem piedade. Se você encontrar na balada depois, diga, com cara de quem está profundamente sentida: "puxa, meu bem, eu não estou entrando do msn...ando muito ocupada...". Afinal, quem ama bloqueia.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Amor nos tempos de orkut

A necessidade mexeriqueira das pessoas é secular, milenar, transcendental, hah. Estavam lá Adão e Eva no paraíso e veio a serpente meter o bedelho (no sentido quase literal da coisa). O tempo passou, dinossauro, gelinho, calor, homem e mulher, lá de novo, aquela coisa toda. Vieram as casas, as janelas, as mulheres debruçadas na janela vendo a vida passar. Inclusive a vida das outras pessoas.

Ta, todo esse relato histórico super preciso só para falar do orkut. Parece meio datado, já que o Twitter agora que é a sensação da galera online. Mas, sério, orkut estava de leve acabando com a minha vida de novo. A ponto de querer chegar mais cedo no trampo pra poder ficar uns 10 minutinhos vendo quem entrou no perfil de quem, se fulaninho tem scrap de alguma rapariga. O que será que ele está ouvindo no lastFM? Freak demais. Calma. Respira.

Agora vem a parte de “E o que aprendemos hoje, amiguinhos?”. Assim, por mais hype, geek e freak que seja a pessoa, ainda necessitamos de respostas. Do sentimento de fazer parte. Dormir de conchinha com a mão acariciando os cabelos. A internet dá isso? Não. São só informações soltar no ar, perdidas no éter.

Sabe fumaça? Tenta pegar.

sábado, 22 de setembro de 2007

amor líquido

Celine,

Estamos vivendo os momentos áureos da edição videoclipe nas relações, para variar a metáfora. As seqüências em slow motion figuram cada vez mais como lembranças de filmes antigos. O problema é que guardamos esses filmes com carinho em nossa videoteca afetiva. E, para os fãs de curtas temporadas, eles são apenas os clássicos: distantes, herméticos e inatingíveis. Enfadonhos.

Não tenho nada contra os especiais de fim de ano. Pelo contrário, já me diverti bastante com eles. Mas os formatos andam se repetindo muito, por trás de uma pseudo-invenção ágil. Não nos interessa uma edição ágil. Interessa o chantilly no cappuccino quente e tudo o que deixa impressões um pouco mais permanentes do que alguns torpedos na madrugada.

Sabe o que é, dear Celine? É que os carteiros têm se mudado cada vez em maior quantidade para aquele local conhecido como canto da memória afetiva. Lá, onde guardamos as imagens que víamos dentro das bolinhas de gude; o cheiro de álbum de figurinha; a textura de manga roubada do pé; aquele envelope que chegou por engano na casa do vizinho, mas que fomos resgatar com toda a nossa devoção.

Os carteiros mudaram-se para lá. Dizem que formaram uma comunidade de uniformes amarelos, que cultua a entrega diária de cartas de amor. O serviço pesado ficou para uma nova categoria, um tanto estranha, de entregadores de mensagens via celular. Declarações de amor chegam por que mãos? Que caligrafia têm as relações que se sustentam via sms? Como saber sobre doçura e amargor sem que haja uma troca, sim, para além de respostas fofas que se perdem no tempo?

Somos capazes de mandar uma mensagem falando de futebol ou pombos entregadores de beijos. Sustentamos uma longa temporada, minha amiga, não tenha dúvidas disso. Pena é que o padrão dos relacionamentos na era da reprodutibilidade técnica imponha a duração de um torpedo.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007


Mais ou menos assim: A história tem um buraco. Quando você chega ao fim, cai e volta para o meio.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

tempo, tempo, mano velho...

Tangerine,

Estamos vivendo os momentos áureos dos 100 metros rasos nas relações. Tudo tão rápido que quando você acha que vai, já foi. Não por acaso, os maratonistas são chamados de “fundistas”. Como sabe, adoro essas peripécias lingüísticas. E, na verdade, o maratonista só se fode mesmo. Fica lá se matando para manter o ritmo, dá o sprint final, luta contra tudo e todos, mas os heróis mesmo são os rapidinhos, os mais apressadinhos.

Tirando as metáforas esportivas que são assim tããão anti-femininas, me pergunto:

Onde estão os momentos slow motion? Estes sempre foram os momentos românticos dos filmes. Incluem até corridinhas, mas desta vez na praia ou no parque, com os braços abertos e folhas de outono caindo.

Ok, não vamos ser tão piegas, baby. Sabemos que também não queremos uma filme de comédia romântica. Mas uma série, de preferência com várias temporadas, é bem mais satisfatória que os especiais de fim de ano.

Agora vou-me. O chantilly está afundando na xícara de capuccino quente. Se não aproveitar agora a sua doçura, só vai restar uma espuma sem gosto. Até.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

En la cama


Os corpos se grudam tão facilmente que fica difícil não pensar que já somos nós. As mãos se encontram na escuridão como se sempre estivessem juntas. De os olhos fechados para ajudar a fantasiar o que já conhecemos bem.

(Só eu, só você?).

- Por que fazemos isso?

- Isso o quê?

- Conversar. Como se quiséssemos nos conhecer. Eu não quero saber de mais nenhuma história sua. Nós não somos nada. Nunca seremos nada.

- Quando eu tinha 7 anos, o meu irmão se perdeu no supermercado e nunca mais voltou...

(...)

- Por que você está me contando isto?

- Porque nós não vamos nos ver mais.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

666 para rubi

A pior parte de pintar o cabelo no esquema do it yourself é o cheiro de tinta que fica depois.

Nunca pintei o cabelo no salão, mas imagino que depois de lavar naquela pia/banco, usar aqueles cremes e shampoos que você nunca encontra em lugar nenhum e fazer uma super ultra escova, é praticamente impossível ficar com cheiro de tinta.


Bem, mas eu odeio salão, então vai no banheiro de casa mesmo.

A outra coisa ruim é esta, o local. O banheiro fica invariavelmente sujo de tinta em pontos específicos que não dá pra saber qual foi a dinâmica da parada espirrar e ir grudar em um lugar bem longe da sua cabeça. Óbvio que a mancha só vai ser percebida depois que a tinta secar e ficar com aquela cor de sangue coagulado. O que não é nada legal de se encontrar em um banheiro, especialmente na parede ou na toalha de rosto branca.

Ah sim, a quantidade de tinta.

Meu cabelo é pequeno, então um kit dá pra usar duas vezes. O que significa que a primeira vez vai ser realizada com a ajuda indispensável do pote de margarina e que as luvas vão ter que ser lavadas e pregadas na parede para secar e serem reutilizadas.

40 minutos depois, tira a tinta ficando mais 40 minutos debaixo do chuveiro com água quente. Os primeiros 10 minutos são com os olhos fechados, pra não irritar. Nos 30 minutos restantes, você imagina que toda aquela água vermelha nunca vai parar de sair e inundar o seu banheirinho. O seu não, o meu.

Melhorar a aparência, ou simplesmente tampar os insistentes novos cabelos brancos que resistem à pinça, é quase um ato de horror, persistência, garra e força de vontade.

Aí você está linda e ruiva no outro dia. Balança os cabelos ao vento. Vem aquele cheiro forte de tinta, mas é melhor manter a pose.

E, adivinhem, ninguém nota. Ainda espero encontrar por aí um homem que veja que os cabelos foram retocados sem que o dito cujo tenha a mesma preferência sexual que eu. E talvez ele pode até indicar uma tinta que não fique com um cheiro tão forte no outro dia.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

El niño

Quando pela rosa passa a ventania.
Vale mais o perfume espalhado por um momento ou a beleza desfeita pra sempre?

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Ato ou efeito de...

Os conceitos servem para definir o que uma coisa é. Sabendo o que uma coisa é, podemos presumir o que ela não é e, principalmente, o que ela não pode ser.

Quando uma coisa é algo, logo ela não pode ser outra coisa senão a coisa já relatada e autenticada pelos seres supremos da coisificação das coisas.

Na nossa vida errante e sublime, buscamos conceituar as coisas como forma de saber o que as coisas são. Estabelecer limites, metas, objetivos e, quem sabe, sonhos.

(Este, claro, é um conceito meu. Porque nunca foi dito que os conceitos sempre devem ser universais. Então, me apoio na relatividade relativista para criar teorias que fazem a minha vida mais erudita).

As coisas mudam.

Mas, aí vem o meu ponto principal, o que é melhor? Ter coisas bem definidas, claras, preto no branco? Ou vagar despretensiosamente pela penumbra? Fazer das mãos dadas e dos gemidos ainda baixinhos os únicos pontos de referência. Algo vago, uma coisa que mistura outras três coisas ainda mais vagas. Ou que, simplesmente, mistura duas pessoas vagas.

Acho que é do Los Hermanos uma música que diz “quero nem saber quem sou”.

(Esses devaneios existencialistas são bem clichês, na verdade. É só olhar nos perfis do orkut na sessão “Quem sou eu”. A maioria das pessoas responde “Quem souber me avise” ou “Boa pergunta”. Mãe, está na moda ser niilista. Assim como gostar do Chico).

Temos uma coisa entre nós. Algo que nos liga. Uma coisa que tem a ver com sexo, com conversas de madrugada, com caronas, com filosofia, com bom humor, com fumaça, com declarações tímidas em cartões, com chocolates, com livros, com fantasias, com espumantes, com presentes, com ausência.

Destas palavras-chave eu não quero um conceito, baby. Quero um conto.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

vermelho

Então desligo a luz e espero você deitar. Você caminha até a cozinha, pega um copo d´água, você nunca esquece a água. Deixa a janela com uma frestinha, para o vento entrar e cantar no nosso ouvido. Nunca falei o quanto eu finjo não sentir frio à noite por causa do vento. Minha tosse talvez tenha outro motivo, além do cigarro, que você já nem liga. O remédio acabou e não importa mais. Pisa com cuidado para não tropeçar nas roupas jogadas pelo chão e no par esquerdo do seu sepato. Liga a televisão baixinho, só para dar sono, mas eu nunca consigo dormir. Me beija a testa com singeleza e vira para o lado. Eu, insone. Você, pausa. Uma linha que nos une apenas pelas costas, reverso.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

entrelinhas

Querida Tangerine,


Poetas, filósofos ou motoristas de caminhão, todos são homens e não negam a raça, apesar da boa embalagem.


Celine

terça-feira, 5 de junho de 2007

cama em pista de gelo

Enquanto adoço meu chá de habu solitário, penso no que leva as pessoas a terem tanto medo de tudo. Já repararam que andamos todos receosos, nos protegendo, com medo de qualquer envolvimento? Olho meu rosto no espelho e vejo uma apaixonada, louca, não só pelos cabelos azuis e sorriso fácil. Costumava levar como um elogio, mas não deixa de ser estranho soar como um voz em tom a mais. Falta de intensidade me cansa, mesmo quando sou amena. O que fica de uma cidade não é mesmo o que os olhos destacam? E quando não há nada para destacar, o que fica? Podia ser teste behaviorista, mas não é. Para onde vão os e-mails que voltam? E as respostas que nunca saíram da boca, onde vão parar? E as cartas de amor? Xico Sá e minha amiga Celine sabem da importância das cartas de amor, dessas com perfume nas folhas e adesivos colados. Há dez anos não escrevo cartas de amor, digamos que apenas dedicatórias de igual amor. Os textos ficam cada vez mais tímidos. Uma loucura de amor soa como exagero e qualquer palavra soa como demais. Sentimos e não demonstramos, para o bem e para o mal. Defendo a coragem, as cartas e os bêbados de amor.

Pelos SMS de amor

Xico Sá defende a volta das cartas de amor. Daquelas antigas, seladas, escritas à mão e, se possível, com papel perfumado. Um romantismo só que, de fato, seria ótimo se eu praticamente tivesse desaprendido a escrever assim, com papel e caneta. Salvo a lista de compras que fica grudada na geladeira, meus dedos estão bem treinados com o teclado e exprimem de modo mais rápido o que passa entre as sinapses do meu telencéfalo altamente desenvolvido.


Cartas de amor são lindas, assim como qualquer outra verbalização de tal sentimento. Acredito que ao escrever sobre qualquer assunto, este ganha um corpo, uma áurea, que dificilmente seria encontrada somente falando (excetuando-se, é claro, os sussurros ao pé do ouvido).


Coloco no meio desse balaio de palavras românticas as mensagens de celular românticas. Os famosos SMS que iluminam o meu celular e fazem surgir duas batidas de coração mais aceleradas entre o sinal de chegada e a verificação de quem a mandou. Depois de ver que não foi a operadora, o sorriso é inevitável. E dá-lhe respostas com carinhas, miguxês arcaico e tudo mais. Adoro.


O cúmulo se deu quando, em uma tarde de domingo inócua, tento desesperadamente manter um contato. Ligar para falar nada não é o meu forte, então tome-lhe SMS. O motivo? A vitória do mengão no campeonato carioca. E, detalhe, ele nem gosta de futebol, nem deve saber que é Obina. É o desespero minha gente.


Não, não é. É só um desejosinho que vem, lá do fundo, de dizer um oi e receber um olá do outro lado. E funcionou.

sábado, 2 de junho de 2007

“A ressaca do dia” ou “dial i for invisible”

Sim, tem um momento do dia em que o vizinho ouvindo Vander Lee irrita; os anúncios de dia dos namorados irritam e o noticiário político dá vontade de simplesmente desaparecer. Porque você continua ganhando o mesmo salário de sobrevivência, depois de trabalhar mais de 10 horas por dia durante um longo mês - incluindo fins de semana e feriados. A lista de contas coladas com imã na geladeira parece interminável. Tem momentos na vida em que um quarto de motel repleto de pétalas de rosas parece a coisa mais cafona do universo. Em muitos, quase todos:

Os olhos aceleram para dar conta de tanta informação;
O coração pesa de passado;
Os ombros doem de futuro.

Sim, a vida toda, quem sabe.

quinta-feira, 31 de maio de 2007

"O cansaço do dia" ou "Como eu quero o meu edredon me envolvendo agora"

Tem um momento do dia em que as costas doem, os ombros ficam tensos.

Tem um momento do dia em que os olhos pesam, o coração acelera.

Tem um momento do dia em que a mão seca e a garganta também.

Tem um momento da vida em que tudo parece angústía, medo.


Daqueles em que o melhor ainda estar por vir.

Como esperar para cantar os parabéns.

Aguardar o momento certo para apagar a velinha . Receber votos de felicidade eterna.

A hora certa de rasgar o belo embrulho e encarar o presente.

Depois, todos comem, bebem, dançam e vão embora.

A sujeira fica.


Dia após dia.


Tem um momento do dia em que a vida passa.

Tem um momento do dia em que o barulho do ar condicionado irrita. O barulho da porta irrita. A máquina de café irrita.

Tem momentos na vida. A vida toda, quem sabe.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Distraindo a vida

Eu fumo para distrair a vida.


Disse-me um senhor um pouco perturbado mentalmente em uma manhã preguiçosa. Dessas em que tudo o que você quer é que seu ônibus chegue logo para poder fugir dos desconhecidos que insistem em fazer novos amigos a cada oportunidade.


Distraindo a vida estava ele. E lá fui eu martelando isto na minha cabeça avoada. Catando caquinhos de frases de efeitos dos outros para tentar encontrar assim, jogado na rua, algum sentido ou iluminação que possa, quiçá, render um belo post ou apenas um sorriso no canto da boca.


Mas faz algum sentido.


O sujeito fumava um cigarro atrás do outro. E a vida claramente ia se preocupar com isso. Fazer brotar ali um câncer ou, no mínimo, um pigarro constante na garganta. Enquanto isto, o nosso herói ocupava minha cabeça com frases sem sentido e afirmações existencialistas de ordem duvidosa.


Ok, você venceu. Eu peguei a isca, e continuo a pescar detalhes na vida alheia que possam clarear um pouco estas manhãs preguiçosas que sempre surgem, uma após a outra.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Boas-vindas

Começamos um blog. Mais um em meio a tantos endereços, templates, fotos e referências. Nosso A little bit Charlotte nasce da vontade de escrever sobre um hiato que nem sabemos como nomear. Lost in translation, incomunicabilidade, sucessão de rostos e amores desajeitados. Duas amigas que, depois de muitas sessões do descarrego, resolveram encarar a liquidez da vida moderna. Poemas nas paredes, copos de vinho, uma gata que se esconde atrás do fogão e algum bom humor para narrar os encontros e desencontros cotidianos. Muito prazer, essas somos nós.

Charlotte

I'm stuck. Does it get easier.