sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Café para acordar

Eu pedi misto quente e ele torradas de pão integral. Ambos pedimos capuccino, mas o dele era pequeno, o meu grande. Eu açúcar, ele não. Assim começou o dia logo depois da noite que havia terminado mais tarde. Dormimos sem vontade de dormir. Nos vemos no escuro. Encontramos intimidade em meio ao lençol que soltou do colchão. Ele encontrou meu brinco perdido no meio desse lençol e, acredito eu, encontrou algo que eu também estava procurando, mas não tinha tato para encontrar.
É cedo demais. A espuma do capuccino ainda não se desmanchou. O dia ainda não terminou.

sábado, 27 de setembro de 2008

1+1=0

Está frio, o chá veio como bom companheiro, mas já acabou. Nesse intervalo, entre o fim do chá e o começo desse texto, me peguei pensando quem por que as coisas continuam a ser sempre do mesmo jeito e achei um culpado, os objetivos.

Acho horrível separar as intenções e desejos das pessoas em homens e mulheres. Em toda discussão de mesa de bar, quando alguém fala que “mulheres são complicadas” eu levanto o meu copo e defendo que pessoas são complicadas. Independentemente do gênero.

Mas, agora, um minutinho que eu vou aqui defender a teoria que acabei de formular. Não sobre homens e mulheres, mas sobre mim e “eles”.

Sexo, pra mim, é o começo de um relacionamento. É uma ótima forma de conhecer uma pessoa, não só porque é prazeroso, mas porque, eu acredito, é quando estamos mais entregues. Eu não enxergo sexo como prêmio, nem sigo o raciocínio de muitas mulheres de que “só dou depois de...”. Boooooring, transo quando tenho vontade. E, talvez aí, resida o meu principal problema. Parece que enquanto pra mim, sexo é o começo, para muitos homens parece ser o fim. Conseguiu, acabou. Morreu fofão.

Acho isso muito estranho, e até perverso. Se você transou com alguém que não te interessa, porque transou então? Deve ter sido uma merda, não? Se eu não gosto de separar as pessoas nem por gênero, quanto mais na categoria “como / não como”.
Tem alguma coisa errada aí nessa matemática. Só números não interessam.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Ressaca

Acontece mais ou menos assim. Você bebe demais. No outro dia, acorda com uma terrível dor de cabeça e a primeira coisa que diz depois de "ai minha cabeça" é "nunca mais vou beber de novo". Comigo acontece quase sempre com vodka.

Normal. A convicção quando estamos de estômago enjoado atinge níveis bem altos. Já fiz pactos com outras pessoas para nunca mais beber vodka. Claro que não deu certo. Depois de alguns litros de água, a normalidade volta ao seu corpo e aí que entra a verdadeira amnésia alcoólica. A menos que você tenha quase morrido de verdade, ao ver o próximo copo pensa: dessa vez vai ser diferente. Eu aprendi a beber. Eu sei quando parar.
E lá vamos nós de novo para mais um dia seguinte de promessas que não serão cumpridas.

Comigo, o mesmo acontece com relacionamentos. Depois da primeira decepção lá vem a promessa: nunca mais vou me jogar de novo. Mentira. Na primeira oportunidade, talvez também com um copo de vodka na mão, lá vamos nós de novo. Mais uma ressaca amorosa.
Os males são parecidos com a alcoólica. Dor em alguma parte específica do corpo, geralmente cotovelo ou coração. Arrependimento e a certeza de que, na próxima vez tudo vai ser diferente.

Anham.

A única coisa que é diferente entre as duas ressacas é, talvez, a possibilidade de procurar ajuda. Podia ter um engov, um analgésico que tirasse logo o mal estar ou que prevenisse os maiores danos. Não, aí entra outra filosofia de boteco: pra curar uma ressaca, beba mais. As vezes dá certo. As vezes só joga a dor de cabeça mais pra frente.

Estou na fase do "nunca mais vou beber ninguém de novo". Sem vodka barata, só espumante importado. Depois do fim de semana volto aqui e conto se deu certo. Ou não.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Reticências são 3 pontos finais

Cá estamos de novo envoltos em metáforas. A figura de linguagem que se permite dizer o que se quer dizer sem dizer diretamente. Uma arte, talvez. Ou apenas a habilidade que todos nós temos de transferir para outras experiências as nossas frustrações ou sensações. É triste. Não poder mais dizer diretamente, ou preferir floreios ilustrativos enquanto a palpitação do coração não basta.
Eu sinto, mas acho que se tivesse fingido não gostar, o meu objeto de desejo estaria aqui agora. E eu não teria bebido vinho sozinha, nem teria visto pela milésima vez o mesmo filme nem estaria escrevendo isso agora. O que seria ótimo. Não ter a melancolia para impulsionar qualquer coisa. É o que o Coldplay fez no ultimo cd, e vejam só o resultado. Não casem com uma ganhadora do Oscar, não tenham uma filha chamada maçã, nem continuem com uma banda se tudo isso acontecer. O que pessoas como eu querem ouvir são pessoas que sentem essa mesma tristeza, mas conseguem transformar em algo mais interessante que uma noite de pijamas e manchas.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Give some meanings to the means

Depois de tanto pensar, concluiu: O problema é a semiótica.
Meninos e meninas desde cedo aprendem as mesmas coisas com significados diferentes.
Sem preto no branco, mais rosa e azul. Uma moça que gosta mais de azul do que rosa enfrenta problemas.
Usamos dicionários diferentes. E o que pode significar algo bom para um, pode se tornar uma gafe para outro. Mulher pode isso, homem não pode aquilo. A solução é fácil.
O que você quer dizer com isso?
Ora, você devia saber. Falamos a mesma língua, não?
Às vezes, no caminho para casa, pensa que o mundo seria melhor sem as entrelinhas. Mas pegar o livro lembra que são as entrelinhas que guardam os maiores prazeres. Literários, ao menos.
Então anda descalça até a janela e pensa que seria melhor ter uma um apartamento em um andar mais alto.

quarta-feira, 26 de março de 2008

I show some love and respect / dont wanna get a life of regret (NARC - Interpol)

Nos longínquos anos 80 o hit das séries era Barrados no Baile.
Naquela época em que TV a cabo era quase uma raridade (pelo menos no circulo social) e as opções eram tão limitadas, Barrados no Baile era assim o must no quesito programa para jovens impulsivos e impetuosos.

Bem, eu era uma criança. Só me lembro de algumas partes, como o topete do Brendon, a despedida da Brenda (que, aliás, tinha sido despedida da série) e a Donna que tinha um visu meio chocante pra mim naquela época.

Mas um episódio marcou. Um em que o Brendon tinha uma nova namorada, os dois viviam juntos pra cima e pra baixo e um dia, depois de terem dormido juntos (é, eu pensava que eles dormiam juntos, não transavam), a moçoila fala: Eu te amo.

Os dois fazem um silêncio assim meio constrangedor e ela fala, meio sem jeito; Ah, quer dizer, não amo. Quer dizer, amo.Ai, deixa pra lá.

Bem, foi algo do tipo. Ele fica meio sem graça, ajeita o topete, sai e já no final desse episódio os dois estão separados.

O que a pequena aqui deveria ter aprendido? Nunca, nunquinha, NUNCA, diga que goste de alguém. Você vai se dar mal. Ele vai se sentir pressionado, vai achar que vai te magoar ou vai só pensar: Fudeu, só queria me divertir e logo ela vai querer casar.

Deveria ter aprendido.

Mas eu acho que gostar é algo tão amplo e simples.
Eu gosto de chocolate, mas não trocaria uma refeição inteira por uma barrinha de meio-amargo.
Eu gosto de filmes europeus, mas me diverti vendo As Branquelas na Tela Quente.

Não é tão dramático assim, é? Por que a gente tem que se sentir culpada quando lembra de uma pessoa no caminho de casa? Por que eu não posso dizer pro fulaninho: Oi gato, eu gosto de você. Vamos alugar uns filmes? É simples, não precisa casar comigo, nem prometer nada, nem dizer um Eu também chocho. Só queria que você soubesse porque, se fosse o contrário, eu ia gostar de ficar sabendo.

terça-feira, 4 de março de 2008

New York Herald Tribune, New York Herald Tribune

Você gosta de nouvelle vague?

De que?

Deveria saber aí que não vai mesmo dar certo.
Ele não conhece Jules et Jim, nem Acossado, nem mesmo os Sonhadores, pra não apelar só para a película preto e branco.
A nova onda agora é ignorar estes pequenos detalhes.

Você gosta de nouvelle vague?

A voz está meio cansada ainda, o suor ainda não acabou de evaporar e o perfume dele ficou no meu pescoço.

Você gosta de nouvelle vague?

Eu posso te ensinar a gostar. Às vezes dá certo, às vezes não. Mas já faz tanto tempo que estamos tentando que não custa mais uma vez, não é verdade?

Você gosta de mim?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Tanran tan tan tantan

Somos tão Sex and the City.

Um amigo diz isto à mesa do bar. Bebemos cerveja em vez de cosmopolitan, estamos numa cidade planejada, e não caótica. Mas depois de alguns copos, tudo pode fazer sentido.

Junto de nós, mais um ouvinte que, ainda incrédulo na afirmação, logo se apresenta como Mr. Big antes que caia sobre ele outra personagem.

Por passados e presentes, o amigo da frase inicial deste texto é Samantha. Um pouco a contra-gosto, mas contra fatos...

Eu sou a Carrie, digo. Claro, todos e todas querem ser a Carrie. A personagem principal, a que usa as roupas mais legais (nem sempre é verdade, mas até isto tem seu charme). A que consegue viver bem em Nova Iorque só escrevendo uma coluna semanal para um jornal. Ah, ficções.

E, sim, ela escreve. Nada profundo, nada poético demais. Mas tudo isto que é cotidiano, como o computador que estraga, o que fazer quando seus sapatos preferidos são roubados ou como deixar o apartamento com uma cara nova.

Poderia ser Miranda, a workaholic. Se não fosse pela mancada de ela engravidar com o idiota do Steve e pelo fato de ela ter aquele look lesbian chic, até passava. Charlote, nem pensar. A que dá título a este blog é outra, mais Johanson e mais Copola. Nada de casamentos com ricos escoceses brochas.

Então, é Carrie mesmo? Claro, afirmo com convicção. Assumo o papel principal, mesmo sabendo que, na verdade, não passamos de vultos na multidão sem trilha sonora. Figurantes que não falam, não olham para a câmera e apenas fingem que tudo está normal, quando alguém grita "ação".

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

"A gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e arte" Hmm

Acho que os fast-foods da vida dão tão certo no mundo todo pela grandiosa combinação de sanduíche, com batata e refri (no meu caso, suco ou chá gelado). Assim, tudo junto, no mesmo combo, sem estresse pra poder saber o que combina com o quê. Tudo o que você precisa para uma refeição pouco saudável junto no mesmo mclanche feliz que, às vezes, até pode vir com um brinde plus.

Esse papo gastronômico foi uma viagem que acabei de ter (agora na hora do almoço) sobre nossas relações com as pessoas.

Diferente dos fast-foods, que tem uma em cada esquina, é difícil achar uma pessoa combo. Que tem tudo o que você precisa.

Você tem a sua família que te ama incondicionalmente, seus amigos, que dão aquele suporte, são companheiros pra tudo quanto é assunto e ainda têm a possibilidade de se auto-combinar de diversas formas. Como amigos do trabalho, da faculdade, da vida, de balada e assim por diante dependendo do seu círculo social.

Quando a relação é amorosa, aí temos também suas variantes. Ficantes, peguetes, amigos coloridos, rolos, tico-tico no fubá (uma expressão bem old school, né? Acho que era o Silvio que falava isso), namorado, namorido, noivo, marido, traste, falecido e as variações dependem da imaginação de cada um.

E quem nunca tentou misturar as coisas? Você tem lá aquele amigo legal, boa pinta, divertido e de vez em quando passa aquele pensamento “Putz, a gente se dá tão bem, será que não daria certo?” Não, não daria. Melhor esquecer. E aquele peguete que sabe o caminho das pedras, mas não é lá a pessoa mais confiável do mundo “hm, a gente podia ser mais amigo”. Bem slogan do Burger King: A gente faz do seu jeito.

Uma pessoa-combo seria mais vantajosa. Menos ligações, menos dúvidas, menos gasolina e menos rugas. Mas enquanto o mclanche feliz não chega, o jeito é se virar no self-service.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Lomos?

http://www.flickr.com/photos/alittlebitcharlotte/

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Overheard Emo In Brasília

Frasesinha que ouvi tempos atrás na rua e achei inspiradora.

Uma garotinha com seus 5, 6 anos anda de mãos dadas com a mãe. Quando passam perto de mim, a garotinha pergunta:

- Mãe, quem ama mais? Os homens ou as mulheres?

- Hein?

A garotinha repetiu a pergunta, eu continuei a andar e perdi a resposta da mãe. Mas imagine, há várias possibilidades de respostas:

Mãe divorciada: - As mulheres, claro. Não viu o que o cachorro do seu pai fez comigo?

Mãe dona de casa: - Depende do assunto, minha filha. Seu pai mesmo, ama mais cerveja do que eu.

Mãe workaholic: - Isso varia de acordo com a profissão que você escolher.

Mãe solteira: - Hm, hm, *snif*. O amor não existe.

Mãe viciada em remédio pra dormir: - Depois de um tempo você vai ver que isso não tem importância. Vamos à farmácia.


segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Meu coração é de ouro. Quanto você dá por ele?


The Hottest State, ou Um amor jovem (sou só eu, ou as traduções de títulos para o português sempre são uma merda?)

Sim, é aquele filme do Ethan Hawke, o bonitinho de Sociedade dos Poetas Mortos, Grandes Esperanças, Before Sunrise / Before Sunset e tudo mais. Este filme ele escreveu, dirigiu e atuou. Há muito que ele deixou de ser só um bonitinho (eu me lembro que lá nos idos dos anos 90, a Capricho lançou uns mini-livretos com astros de cinema – vulgo gatos. Um deles era o Ethan. É engraçado ver que caras como Chris O’donnel nem existem mais, e o EH só tem evoluído).

Então, The Hottest State é mais um filme de DR. Relacionamentos confusos, jovens com sede de amar e de conquistar o mundo todo, de realizar sonhos enquanto tem que pagar aluguel ou jantar com a família.

Aliás, família aqui tem um peso importante. Os dois componentes do casal vêm de histórias complicadas dentro de casa, principalmente por causa da figura paterna. Pai ausente provoca em Sarah uma necessidade de se virar sozinha, uma fixação pelo azul e uma certa tendência a amores-roubada. Já William sente falta em saber como “os homens se comportam”. Ele não sabe o que dizer quando está só com uma mulher, o que deve dizer, o que deve fazer.

Junte isto a um contexto de cinema vazio e escuro no sábado e tem-se um ótimo cenário para aumentar a TPM em mais uma semana. Por sorte do destino, tinha vinho na geladeira.