terça-feira, 6 de novembro de 2007

Adornos para noites de chuva

E a gente fica assim, no meio de recortes de papel, cola e tesoura.

Rediagramando o que já faz e fez sentido.

Porque a minha caligrafia de menino canhoto não condiz com a beleza que nem todos vêem.

Mais fácil é julgar vulgar.

É dizer impuro.

É fechar os olhos.

Mas ainda ontem li que com os olhos fechados é que se tem mais liberdade. E, ainda com os olhos abertos, ficam assim presos na parede os versos dela. Estão presos e livres.

Dela que tem tanto de mim.

E teria ainda mais se já não fosse morta. Assim:

"E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.


Mas não menti gozo, prazer, lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro.


E te repito: por que haverias
De querer
minha alma na tua cama?


Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me".

(Hilda Hilst)

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