domingo, 10 de março de 2013

nunca é tarde, nunca é demais

Celine,

Você não imagina como me fez bem chegar em casa e achar esse papelzinho com a sua letra debaixo da minha porta. Às vezes me pergunto como você faz para estar sempre perto - esse seu acerto com passarinhos ou pombos-correio, deve ser isso. Porque mesmo quando você não escreve, quando está quietinha exercitando a observação crítica, eu sei que as respostas estão aí. Talvez novas dúvidas. Por isso eu te amo.

Agora mesmo estou ouvindo Chico e Caetano na minha nova velha vitrola de madeira. Essa nostalgia que sempre foi minha e você me ensinou. Eles cantam Bárbara e eu me lembro de você. Fico aí imaginando o que você faz agora, nessa tarde de domingo que já caminha para ir embora. Uma tarde de domingo a menos.

Quantas tardes de domingo será que a gente tem ao longo da vida?

Você deve estar ouvindo um samba, tomando uma cervejinha, entre sorrisos e experimentos poéticos. Mas só a gente sabe o quanto de triste há por trás disso tudo. A poesia tem um quê de triste, a mover, no fundo. O samba também. O amor também. Por isso essas coisas nos definem tanto, e a gente vai se perdendo entre o que há de alegre e o que há de olhos de chuva.

O que importa é a coragem de mergulhar nessas águas todas. Turvas. Turvas. Turvas. Turvas.

O que importa é acordar de sonos antigos. Para novos sonhos.

Você desperta e eu fecho os olhos. Preciso desse sono para ver se percebo de fato qual é o meu rosto, qual a pitada de tristeza e qual a pitada de alegria nessa dança de opostos,yin, yang, essas coisas todas que os antigos descobriram e que a gente sabe mas que é tão límpido e reluzente que eu não consigo olhar.

Certezas eu não tenho. Mas tenho querença. Obrigada, minha amiga doce, por essa palavra. Querença, sim, de ser cada vez mais o que eu sou, sem artifícios. Mesmo que doa. Com o mal, os medos e as chuvas.

Nunca é tarde, nunca é demais.

Todo o meu amor,

Tangerine


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