o corpo do amor
Saúde!
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Celine
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Celine,
Estou numa pousada no meio da Bahia, entre coqueiros de escuro verde. Hoje é 4 de dezembro, dia de Iansã. E você sabe como isso quer dizer que também hoje é o meu dia. Comprei uma garrafa de vinho no mercadinho próximo. E bebo só enquanto escrevo.
Sempre achei que beber sozinha fosse o fim da linha. Mas hoje meu coração tem tanta ternura - pela Bahia, pelo mar, pelos coqueiros serenos - que eu nem me importo.
Vou brindar a Iansã e seus ventos. Que eles abram os caminhos e espalhem o amor! Que seu desejo seja ouvido, minha amiga, e que nós possamos exercitar esta arte em suas mais variadas formas e configurações.
Hoje, se eu pudesse fazer um desejo, seria passar a virada do ano com você. Mas daqui fico sossegada, porque sei que estamos sempre juntas.
Nos turbilhões e nas branduras.
No exercício árduo de só ser.
Te amo,
Tangerine
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tangerine
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Celine
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Celine
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20:22
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Celine,
Você não imagina como me fez bem chegar em casa e achar esse papelzinho com a sua letra debaixo da minha porta. Às vezes me pergunto como você faz para estar sempre perto - esse seu acerto com passarinhos ou pombos-correio, deve ser isso. Porque mesmo quando você não escreve, quando está quietinha exercitando a observação crítica, eu sei que as respostas estão aí. Talvez novas dúvidas. Por isso eu te amo.
Agora mesmo estou ouvindo Chico e Caetano na minha nova velha vitrola de madeira. Essa nostalgia que sempre foi minha e você me ensinou. Eles cantam Bárbara e eu me lembro de você. Fico aí imaginando o que você faz agora, nessa tarde de domingo que já caminha para ir embora. Uma tarde de domingo a menos.
Quantas tardes de domingo será que a gente tem ao longo da vida?
Você deve estar ouvindo um samba, tomando uma cervejinha, entre sorrisos e experimentos poéticos. Mas só a gente sabe o quanto de triste há por trás disso tudo. A poesia tem um quê de triste, a mover, no fundo. O samba também. O amor também. Por isso essas coisas nos definem tanto, e a gente vai se perdendo entre o que há de alegre e o que há de olhos de chuva.
O que importa é a coragem de mergulhar nessas águas todas. Turvas. Turvas. Turvas. Turvas.
O que importa é acordar de sonos antigos. Para novos sonhos.
Você desperta e eu fecho os olhos. Preciso desse sono para ver se percebo de fato qual é o meu rosto, qual a pitada de tristeza e qual a pitada de alegria nessa dança de opostos,yin, yang, essas coisas todas que os antigos descobriram e que a gente sabe mas que é tão límpido e reluzente que eu não consigo olhar.
Certezas eu não tenho. Mas tenho querença. Obrigada, minha amiga doce, por essa palavra. Querença, sim, de ser cada vez mais o que eu sou, sem artifícios. Mesmo que doa. Com o mal, os medos e as chuvas.
Nunca é tarde, nunca é demais.
Todo o meu amor,
Tangerine
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tangerine
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13:34
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Tangerine,
Passei por tempos distantes, mas enfim retornei.
Para o mesmo lugar. Mas penso que volto diferente.
(é difícil voltar a escrever. Entre leituras filosóficas em busca do tempo perdido, acabei por desenvolver mais a observação crítica do que a prática. Mas vamos lá.)
A certeza da dúvida pode ser mais reconfortante que se parece.
Já que tudo é movimento e recriação, o melhor a se fazer é continuar. Nunca parar. Principalmente de querer, de pensar, de mudar.
Para se aproveitar o mar, não se deve parar no mesmo lugar.
Acho que ganhei presença. Ou querença.
E o tempo continua sendo água, rio, imensidão.
(um bom momento para ouvir Drão)
É como se eu tivesse acabado de despertar de um sono longo. Ainda é difícil lançar-me a grandes elaborações, só alguns chistes aqui e ali. Mas, por melhor que seja o sonho, é sempre boa a sensação de despertar. Para a vida. Para não parar.
Em frente. Enfrente.
Já volto, amor.
Celine
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Celine
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18:51
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Celine,
Já pensou como seria se as coisas simplesmente mudassem de rumo? Se tivessem esse poder? Eu não quero pensar. Porque seria como entrar num infinito de possibilidades. Como num carnaval de felicidade eterna, se ousássemos mostrar nosso verdadeiro rosto, além da máscara.
Eu não sei qual seria meu rosto. Você sabe? Eu tenho medo, minha amiga, e digo isso entre um cigarro e as lembranças do Velho com o Cachorro. Há coisas que não resolvemos. Simplesmente assim. E talvez durem uma vida. Talvez não. Depende da nossa coragem.
Hoje nadei no Lago durante a noite. E a água estava morna como um aconchego. As minhas palavras ficaram moles feito as ondas, simplesmente seguiram o fluxo, como quando se aprende a flutuar e é preciso aprender também a confiar. A confiar no que não conhecemos.
Tampei os ouvidos para que a água não invadisse tudo. Forte, foi como se minhas mãos pudessem compreender a novidade dos cabelos se dissolvendo num lago escuro, tão escuro quanto todos os meus medos. Escrevo agora como quem tem que fingir uma suavidade não precedente nos dedos, na vida, na alma. Você me entende? Enquanto escrevo tudo isso, talvez você esteja deitada na cama lendo Em Busca do Tempo Perdido. Talvez editando algum filme. No fundo, tudo é essa passagem inexorável dos dias, das horas, memórias que ficam pelo caminho.
O que acho é que sempre me exponho demais. Não há medida para quem foi alfabetizada pelos raios das tempestades sem nem mesmo saber. Antes da linguagem, a intensidade. Talvez seja essa lua, constelações profundas de quem tem medo de expor suas fraquezas mas vive à beira do abismo. Uma generosidade suicida. Como naquele trem para Paris, aquele que você pegou, lembra?
Sabe quando, pelos motivos mais bobos, deixamos de sentar onde queríamos para que outra pessoa pegasse o lugar e construísse uma história, ou uma proto-história? Talvez seja simplesmente isso o que desejamos: um lugar entre o possível e o sublime. Para que todos os dias sejam lusco-fusco. Rascunhos. Para que possamos nos reinventar do roteiro nosso de cada dia.
Agora me sinto frágil como um pássaro que acabou de aprender a voar e começa a arriscar um vôo fora da asa.
Você arriscaria, Celine?
Espero sua resposta, sob o risco iminente da queda - no caminho que tanto conhecemos do chão.
Amor,
Tangerine
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tangerine
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21:41
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A verdade é que eu já perdi as contas de quantas vezes joguei seu nome no Google, esperando algum novo registro que eu ainda não conhecesse. Já decorei a ordem das páginas - das fotos do all star num velho fotolog até o currículo. Sei onde está cada detalhe, cada informação sua. Acompanho sua vida enquanto você envelhece na internet. Envelhecer diante de todo mundo, mudar de ideia, mudar de interesses, de casa, de cidade. Só minha obsessão por você é que não muda. Já tentei de tudo no meu rehab particular: cigarros, palavras cruzadas, tricô, i-ching, faxina. Nada me distrai. Por hoje, cansei de dar F5 no seu twitter e acompanhar sua novela feliz no Instagram. Vou dormir. Enquanto você faz samba e amor até mais tarde, eu fico aqui, com muito sono de manhã.
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tangerine
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21:28
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Celine,
Hoje, mais uma vez, não consegui fazer tudo o que queria. Sabe quando a gente vai dormir fazendo mil listas na cabeça, acorda pensando nisso e, ainda assim, não dá conta de tudo? A vida sabe bem como nos atropelar. A gente acorda, pega trânsito, trabalha, aguenta gente chata, leva bronca, pega trânsito de novo, passa no supermercado, carrega as sacolas pelas escadas do prédio sem elevador. Mas, veja só, não deu para molhar as plantas e elas estão morrendo, murchas, na varanda. Não deu pra correr no parque e a mensalidade da academia está lá, sendo descontada com mais assiduidade do que a minha freqüência. Esqueci de passar no banco também, e amanhã vai ser corrido pra pagar a moça da faxina. No almoço, eu comi no vegetariano. Na janta, esqueci de ser saudável e botei no forno uma pizza dessas congeladas, sabe? O buraco que a gente pode ser quando não tem ninguém olhando? Mas sempre tem alguém olhando, mesmo que seja a gente mesmo. A conta de luz eu esqueci de colocar no débito automático. Atrasou. Eu ia fazer a unha na semana passada, mas não rolou. Porque surgiu um trabalho, porque eu não achei a chave do carro, a porta enguiçou...na verdade eu saí na hora, mas o trânsito estava fora no normal naquele dia, uma coisa de maluco, deve ter tido algum acidente ali por perto.
(no fundo, eu queria conseguir dizer para mim mesma que simplesmente não rolou, e que está tudo bem.)
A vida é o que acontece enquanto a gente está se culpando por não ter conseguido fazer tudo.
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tangerine
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18:58
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Sabe, amiga, não tenho saudades dele. Tenho saudades de mim, apaixonada por ele.
Você já se sentiu assim, com saudades de como era ao lado de alguém?
Será inevitável isso, isso de, em algum momento, a gente se perder? Lost in translation. O amor não tem tecla SAP.
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tangerine
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09:44
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I just don't know what I'm suppose to be. I thought maybe I wanted to be a writer... but I hate what I write, and I tried taking pictures, but John's so good at that, and mine are so mediocre... and every girls goes through a photography phase, like horses, you know dumb pictures of your feet...
Bob:
You'll figure it out. I'm not worried about you. Keep writting.